O estatuto categorial das preposições acidentais/atípicas: a proposição dos “relatores circunstanciais” como classe gramatical
DOI:
https://doi.org/10.18364/rc.v1i59.363Palavras-chave:
Preposições acidentais/atípicas, Fluidez categorial, Relatores circunstanciais.Resumo
O objeto de investigação, neste artigo, são as preposições acidentais/atípicas. Analisamos seus usos e, com isso, explicitamos a fluidez dessa classe gramatical, uma espécie de gradualidade, na medida em que podem ser inseridas em diferentes categorizações gramaticais a depender do contexto comunicativo. Como referencial teórico-metodológico, adotamos os pressupostos dos Modelos Baseados no Uso, que coadunam com o princípio de que o estabelecimento de convenções gramaticais é influenciado tanto por estrutura linguística, contexto social e pragmático quanto por aspectos cognitivos. O Iboruna é o Banco de Dados utilizado como amostra para a pesquisa, que reúne dados orais da comunidade de fala do interior paulista. Os resultados apontam seis padrões de usos, em que temos: de um lado, a função relatora caracterizada pela presença de Sintagma Nominal na estrutura subsequente; e de outro, a evidência do aspecto semântico-pragmático comum que todos provocam na estruturam a que se ligam, a função circunstancial. Diferentemente de análises de cunho gramatical, descritivistas e de estudos linguísticos, a partir das evidências aqui apresentadas, denominamos as preposições acidentais/atípicas de “relatores circunstanciais”, “relatores” porque relacionam termos/orações, desempenhando sua função de nexo gramatical, e “adverbiais/circunstanciais” porque, como transpositores, originam construções dessa natureza.Downloads
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