Formas possessivas de terceira pessoa: confrontando seu e dele a partir da abordagem experimental
DOI:
https://doi.org/10.18364/rc.v1i58.353Resumo
O presente artigo mostra os resultados de um experimento cujo objetivo é avaliar a configuração da alternância entre os pronomes possessivos de 3ª (terceira) pessoa do português brasileiro, representados pelas formas simples seu e a forma de-possessiva dele (além de suas flexões de gênero e número). O propósito é verificar, tendo como aparato teórico as premissas da Sociolinguística (WEINREICH, LABOV E HERZOG, 1968; LABOV, 1994) e as diferentes hipóteses da literatura temática (CERQUEIRA, 1993; PERINI, 1995; MÜLLER, 1997), se a alternância é um caso de substituição ou especialização de formas. A hipótese que norteia o trabalho é a de que a escolha entre os dois pronomes (seu/dele) é determinada pelos traços semânticos do referente possuidor, uma vez que fatores como a natureza (específica ou genérica) e a animacidade (humano ou inanimado) se mostraram relevantes na escolha entre os dois pronomes em demais trabalhos sobre o tema (SILVA, 1984; MÜLLER, 1996; GUEDES, 2015). Por meio de um teste de julgamento de aceitabilidade, pautado na abordagem experimental (DERWING E ALMEIDA, 2005; TRAXLER, 2012), foram avaliados o comportamento dos falantes diante de sentenças com seu e dele e sua relação com os traços de natureza e animacidade do referente possuidor.Downloads
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